Uma carta para minha mãe

by - 11:37

"Mãe, só você sabe o quão complicada eu sou. Você, quem me suporta desde a barriga, até hoje. Gostaria de ser mais simples, mais gentil, mais carinhosa e conseguir expressar tudo o que eu sinto por você. Eu nunca entendi o por quê, mas eu não consigo ser dessa forma e isso é uma das coisas que mais me doem. Não consigo não chorar pensando nisso.

Mas sabe, durante minha infância, eu tive diversos pesadelos envolvendo a senhora. Com frequência eu acordava chorando baixinho pra ninguém ouvir, pensando que um dia a senhora poderia não estar mais comigo e eu jamais conseguiria mostrar o quanto lhe amo. Até hoje isso me dói. Me perdoe por ser desse jeito...eu não tenho culpa, só sou assim.

Não existe amor maior do que o dos pais, sejam eles de sangue ou não, porque o amor dos pais é companheiro, amigo e, mais que tudo, um amor que protege. Eu sei o quanto você e meu pai fazem por mim e minha irmã; sei o quanto sempre se esforçaram e se esforçam. Todos os meus planos e objetivos de vida incluem retornar tudo isso que vocês fazem. Sei o quanto estão cansados já e lamento todo dia no fundo da minha alma por não poder ajudar desde agora.

Eu agradeço muito por sempre ter me apoiado e, hoje eu posso dizer que todo o meu esforço nos meus estudos sempre foi pensando em vocês, em resposta aos dias que acordava cedinho e me vestia enquanto vocês faziam meu pãozinho com manteiga e café. Depois, seguia para a escola estadual aqui do bairro e lá ficava a manhã toda. Lanchava o que a escola oferecia e não achava ruim, porque eu fui ensinada que aquele era o mais saudável pra mim (me poupou muita preocupação com doenças relativas ao consumo daqueles salgadinhos que vendiam lá). Foi assim, também, que eu aprendi que a leitura e o estudo são coisas extremamente importantes na vida de alguém e, hoje, mesmo depois quando segui para a escola municipal, nunca abandonei o hábito.

Eu nunca contei, mas aquele último ano na escola estadual foi o pior que já poderia. Foi a primeira vez, aos dez/onze anos, em que olhei para um garoto com outros olhos. E isso, na verdade, só me fez mal, afinal, ele não estava muito interessado em uma garota que vive para os estudos, como eu. Sabe que eu não tive amigos aquele ano, pelo contrário. Mas foi na expectativa de conseguir uma vaga na outra escola, que eu me mantive ainda mais focada nos estudos e, puxa vida, como agradeço todo o esforço de vocês.

Na escola municipal eu tive os três melhores anos que poderia. Fiz amigos, conheci professores incríveis, tive um estímulo incrível nos estudos e aproveitei ao máximo tudo o que me foi oferecido. Mais uma vez eu tive a confirmação de que o que vocês tanto me ensinaram sobre ler era verdade. Nos três anos que se seguiram por lá, fiz da leitura uma amiga muito próxima e, da escrita também. Exercitei o vocabulário, como fui ensinada em casa, através do uso dos antigos dicionários, sempre bem guardados na minha bolsa (ainda tenho o hábito de andar com um dentro da bolsa) da escola.
E foi desse jeito que vi o grande resultado, já no último ano: passei em primeiro lugar para o meu curso no Instituto Federal, com uma média de 98% na redação!

Apesar dos pesares, hoje estou aqui graças ao estímulo de vocês. Graças ao exemplo de pessoas batalhadoras que não desistem de sorrir diariamente. Mais uma meta da minha lista foi alcançada: eu passei também para a Universidade Federal. E tudo o que eu mais sonho hoje é poder usufruir ao máximo disso e retornar para vocês.

E das voltas que a vida dá, eu encontrei alguém que me valoriza pelo que eu sou, pelo meu conteúdo e, que se sente feliz com minha felicidade. Desse sentimento, em breve seu primeiro neto vai nascer, mesmo com tanta coisa acontecendo. Quero que, assim como eu fui criada, ele receba todo o amor e estímulo para se tornar uma pessoa boa e batalhadora. E, sabe, com toda a dificuldade e noites de choro que já passei e sei que passarei, hoje posso sentir na pele o amor que você mesma sentiu nos nove meses em que estive na sua barriga. Um amor sem explicação, que vem sem avisar e transborda em proteção. O amor que dói. Dói, porque eu sei que tudo o que dói em mim, dói em você também. Esse é o amor de mãe. E, assim como eu amo nosso pequeno Martin, amo muito você.

Obrigada por tudo o que já me fez e faz,
Eu te amo."

Obs.: Esse texto não foi nem será revisado. Foi feito o mais cru e sincero possível.

O tema desse post faz parte da Blogagem  Coletiva do mês de Maio do grupo Irmandade das Blogueiras.

Para me seguir nas redes sociais:



Outros posts

0 comentários

Where we are now