Eu espero primavera chegar

by - 09:42



Ontem eu fui pra um show que me fez refletir. Alguns anos atrás fui ao show da mesma dupla onde conheci uma música muito especial e, no decorrer dos anos, sempre me debulhava em lágrimas ao ouvi-la novamente, mesmo que buscasse usá-la como um apoio nos dias difíceis.  

Eu olhei a tristeza nos olhos
E sorri

Eu dizia para mim mesma em meio ao choro incessante, como quem finge estar bem pra um amigo preocupado. Mas a ferida ainda estava aberta. Ano após ano e a música ainda doía no peito. E, meio que me acostumando à dor, eu ainda a ouvia, tão incessantemente quanto chorava.

Mesmo quebrantado pela vida que escolhi
Da janela eu vi cada estação fugir

E a vida seguia estagnada, ainda que eu gritasse por ajuda, em busca de saídas. Mas do que adianta buscar ajuda onde não existe? É como plantar uma boa semente numa terra ruim. Então, eu via da janela os anos passando, as dores surgindo, crescendo e a solução cada vez mais distante.

Da estrada eu quis retornar para onde partir
Da distância avistei a alegria e a esperança
Das migalhas que desperdiçamos, faremos jantar

 Com o tempo e maturidade, as cicatrizes que ficaram me mostraram que o único caminho plausível seria voltar pelo que eu já havia trilhado e refazer minhas escolhas, enquanto me fosse possível. Juntei meus trapos, ergui a cabeça e fui. Só fui. Às vezes tudo que a gente precisa é só ir; se permitir.
A estrada que havia me deixado marcada de dores, me destruiu por completo, mas pacientemente eu segui até entender que era preciso ser moldada desde o princípio. Eu entendi que não bastava virar a página, era preciso arrancar todas as páginas escritas e começar novamente do zero.
Então aceitei que esse processo era necessário e tenho caminhado me permitindo ser reconstruída, passo a passo.
Até o dia de hoje, posso dizer, muita coisa mudou, especialmente por dentro.
E dessa vez, em mim, algo diferente aconteceu: Sem mais lágrimas, eu olhei a tristeza nos olhos e sorri. Apenas sorri.
A ferida sarou.

Isabelle Pegado.

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